Crônica: Campos de Paraíso

     Certa vez estava eu observando através da janela de meu quarto a pracinha ao lado de casa. Abandonada, mal cuidada, praticamente vazia, graças ao avanço da tecnologia e do nascimento de bebês que já vem com um Ipad colado na barriga.
     Eis que surge uma criança quebrando o silêncio com sua gargalhada. Corria pra lá e para cá, aos tropeços, com joelhos ralados e faltando dentes na boca. Claro que porque estava trocando a dentição e provavelmente caíra se divertindo, o que não é o caso de todas, infelizmente, que chegam a perder alguns dentes sem ser a hora certa.
     O balanço estava quebrado, a gangorra não tinha assentos. Mesmo assim ela tentava se divertir da melhor maneira possível, enchendo com água um potinho e fazendo castelinhos na areia suja.
     Uma senhora a observava incansavelmente, sentada. Porém nada dizia, nada fazia, provavelmente sabendo que esse seria um dos momentos mais preciosos da vida da pequenina. Sem preocupações, sem problemas, toda hora era hora de brincar.
     A senhora, por alguns momentos, abaixou a cabeça, e fechou os olhos. Nesses instantes, a criança se moveu para longe, e foi embora. Pensei em gritar, mas não consegui. Não adiantava mais. Naqueles momentos de distração, quase como num piscar de olhos, minha criança foi embora, junto com a inocência, e a felicidade jovial.
     Agora somente restou-me eu, a senhora, a observar meus campos de paraíso.



Giovana mB



Crônica rápida.

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