Redenção

E, por nada, meu silêncio agora é caos
E grita bem alto
O que deveria ser apenas sussurrado...
Mergulho nas águas profundas dos meus oceanos
E descubro estupefata: estou nua
Completamente entregue e embevecida
Imersa e perdida nesse cenário
Absurdo e surreal que me chega
Com a noite em teus olhos

E você, o que quer?


Eu quero, na verdade, que ele leia meus textos, tente me descobrir. Até porque, hoje eu sou isso, amanhã aquilo e a mutação é constante.

Eu quero me apaixonar todos os dias por aquele cara não muito alto, nem magro, nem gordo, de olhos escuros, de abraço apertado, de encaixe perfeito, de barba cerrada, de amor sincero e sorriso doce.

Eu quero viver o que ninguém me permitiu que eu vivesse. Que ninguém me fez conhecer.

Eu quero enlouquecer de saudade, e quero que essa saudade me faça correr atrás dele onde quer que esteja só pra eu abraçá-lo.

Eu quero tudo ou nada. 8 ou 80.

Eu quero intensidade. Entrega.

Eu quero a verdade, nem que esta seja a mentira disfarçada...

You

I dreamt about you nearly every night this week

Aos que vão nascer

1

É verdade, eu vivo em tempos negros.

Palavra inocente é tolice. Uma testa sem rugas
Indica insensibilidade. Aquele que ri
Apenas não recebeu ainda
A terrível notícia.

Que tempos são esses, em que
Falar de árvores é quase um crime
Pois implica silenciar sobre tantas barbaridades?
Aquele que atravessa a rua tranquilo
Não está mais ao alcance de seus amigos
Necessitados?

Sim, ainda ganho meu sustento
Mas acreditem: é puro acaso. Nada do que faço
Me dá direito a comer a fartar.
Por acaso fui poupado. (Se minha sorte acaba, estou perdido.)

As pessoas me dizem: Coma e beba! Alegre-se porque tem!
Mas como posso comer e beber, se
Tiro o que como ao que tem fome
E meu copo d'água falta ao que tem sede?
E no entanto eu como e bebo.

Eu bem gostaria de ser sábio.
Nos velhos livros se encontra o que é sabedoria:
Manter-se afastado da luta do mundo e a vida breve
Levar sem medo
E passar sem violência
Pagar o mal com o bem

Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los
Isto é sábio.
Nada disso sei fazer:
É verdade, eu vivo em tempos negros.

2

À cidade cheguei em tempo de desordem
Quando reinava a fome.
Entre os homens cheguei em tempo de tumulto
E me revoltei junto com eles.
Assim passou o tempo
Que sobre a terra me foi dado.

A comida comi entre as batalhas
Deitei-me para dormir entre os assassinos
Do amor cuidei displicente
E impaciente contemplei a natureza.
Assim passou o tempo
Que sobe a terra me foi dado.

As ruas de meu tempo conduziam ao pântano.
A linguagem denunciou-me ao carrasco.
Eu pouco podia fazer. Mas os que estavam por cima
Estariam melhor sem mim, disso tive esperança.
Assim passou o tempo
Que sobre a terra me foi dado.

As forças eram mínimas. A meta
Estava bem distante.
Era bem visível, embora para mim
Quase inatingível.
Assim passou o tempo
Que nesta terra me foi dado.

3

Vocês, que emergirão do dilúvio
Em que afundamos
Pensem
Quando falarem de nossas fraquezas
Também nos tempos negros
De que escaparam.
Andávamos então, trocando de países como de sandálias
Através de lutas de classes, desesperados
Quando havia só injustiça e nenhuma revolta.

Entretanto sabemos:
Também o ódio à baixeza
Deforma feições.
Também a ira pela injustiça
Torna a voz rouca. Ah, e nós
Que queríamos preparar o chão para o amor
Não pudemos nós mesmos ser amigos.

Mas vocês, quando chegar o momento
Do homem ser parceiro do homem
Pensem em nós
Com simpatia.

Bertold Brecht - Dos poemas de Svendborg

Sentir

Olhava para os pinheiros no meio da neblina pela janela do chalé, segurando sua xícara de café para esquentar as mãos. O pensamento voava livre, pensando no futuro que o aguardava. Mas já não tinha medo. Isso era coisa do passado. Agora, se sentia o homem mais seguro do mundo, forte e confiante como o rio que descia cortando a montanha. Sentiu a respiração dela se aproximando de sua orelha, enquanto ela o abraçava por trás, com uma mão sobre a cintura, por cima do roupão, e a outra acariciando seu tórax, deixando os dois corpos cada vez mais próximos, até que ela se encostasse completamente nele, deitando em seu ombro, com os cabelos ainda penteados pela noite, como quem diz "eu te amo" sem falar uma palavra. Ele fechou os olhos, sorriu e encostou sua cabeça sobre a dela, como que respondendo "eu também". Palavras só conseguem traduzir os sentimentos até certo ponto. Às vezes, é melhor apenas sentir.

Morna e ingênua

Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com o seu carinho

E lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo

Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei, nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim

De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás

Nunca mais

"Se você voltar, não será mais o mesmo."
 

Away

Tem gente que vai me perdendo, me deixando escapar.

Não por falta de amor...


Lutei contra o amor
E quanto mais vencia, me achava um perdedor
Mais tarde me enganei
Vi com outros olhos
Quando às vezes não amei a mim
Não por falta de amor
Mas amor demais me levando pra alguém

Sempre fui muito só
Eu andei
Sorri, chorei tanto
Fui quase feliz
Fiz como pude

Desprezei meu ego
Dando esmolas a ele como se fosse um cego
Mais tarde me enfeitei
Até pintei os olhos
Quando às vezes não amei a mim
Não por falta de amor
Mas amor demais me escapando pra alguém

Quem?


Perca tempo



Perceba a beleza na calma 
Você ainda tem alma? 
Como assim, não tem tempo pra isso?


Editorial: Humanos ciborgues

      Humanos ciborgues Força sobre-humana, implantes que adicionam novas funções ao cérebro, capacidade de enxergar no escuro. Tudo isso é real e está sendo desenvolvido em laboratórios de pesquisa. Atualmente ainda há uma grande controvérsia a respeito disso, mas já é possível encontrar pessoas que optam por trocar um órgão saudável por uma versão artificial com novas funções.
      Pensando a respeito, podemos nos perguntar: há limites éticos para o desenvolvimento científico? Até que ponto o ser humano será capaz de se submeter a uma cirurgia desnecessária para trocar um órgão perfeito e saudável? Essa nova tecnologia pode até ser comparada com uma evolução da cirurgia plástica: criada para reparar danos no corpo, porém muito utilizada para encaixar um corpo saudável nos moldes estéticos atuais.
      O termo ciborgue refere-se a um organismo cibernético, ou seja, um organismo dotado de partes orgânicas e cibernéticas. Na realidade, ciborgues são pessoas que utilizam tecnologia cibernética para reparar ou superar deficiências físicas e mentais em seus corpos. Porém, isso poderá ser superado, e encarado como uma “evolução” humana, de início muito cara, podendo criar mais desigualdades e separar mais ainda a raça humana.
      Como toda mudança radical, serão necessários longos debates éticos para ser decidido, através da maioria, o que é socialmente aceitável ou não, algo que ocorre hoje nos campos da clonagem, por exemplo. Talvez seja encontrado um ponto de equilíbrio, ou o mundo acabe sendo drasticamente dividido pela tecnologia: aqueles que podem comprá-la, e os que não podem. 


Giovana mB

Crônica: Campos de Paraíso

     Certa vez estava eu observando através da janela de meu quarto a pracinha ao lado de casa. Abandonada, mal cuidada, praticamente vazia, graças ao avanço da tecnologia e do nascimento de bebês que já vem com um Ipad colado na barriga.
     Eis que surge uma criança quebrando o silêncio com sua gargalhada. Corria pra lá e para cá, aos tropeços, com joelhos ralados e faltando dentes na boca. Claro que porque estava trocando a dentição e provavelmente caíra se divertindo, o que não é o caso de todas, infelizmente, que chegam a perder alguns dentes sem ser a hora certa.
     O balanço estava quebrado, a gangorra não tinha assentos. Mesmo assim ela tentava se divertir da melhor maneira possível, enchendo com água um potinho e fazendo castelinhos na areia suja.
     Uma senhora a observava incansavelmente, sentada. Porém nada dizia, nada fazia, provavelmente sabendo que esse seria um dos momentos mais preciosos da vida da pequenina. Sem preocupações, sem problemas, toda hora era hora de brincar.
     A senhora, por alguns momentos, abaixou a cabeça, e fechou os olhos. Nesses instantes, a criança se moveu para longe, e foi embora. Pensei em gritar, mas não consegui. Não adiantava mais. Naqueles momentos de distração, quase como num piscar de olhos, minha criança foi embora, junto com a inocência, e a felicidade jovial.
     Agora somente restou-me eu, a senhora, a observar meus campos de paraíso.



Giovana mB



Crônica rápida.

Buried Alive

Eu estou tentando reanimar o que já se afogou
Eles pensam que eu sou uma tola que não consegue perceber
A esperança joga um estranho jogo com a mente
Porque eu achava que o amor atava-se a ferida
Não posso reviver o que já se afogou
Ela não vai voltar